Emergência!
no Itaú Cultural
" O que a organização de um formigueiro e o funcionamento do cérebro têm em comum? Nada? Errado! Com base em regras simples, surgem resultados complexos e imprevisíveis.
Esse é o conceito básico de emergência, tema da quarta edição da bienal Emoção Art.ficial, exposição de arte e tecnologia em cartaz no Itaú Cultural entre 2 de julho e 14 de setembro.
Também serão realizados um simpósio internacional sobre o tema com transmissão ao vivo pela internet; o ON_OFF: Experiências em Live Images; e o Pecha Kucha Night - São Paulo, um exemplo prático de emergência, em que idéias são apresentadas segundo regras simples. "
Para mais informações, clique aqui.
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HORÁRIO DE VISITAÇÃO
quarta 2 julho a domingo 14 setembro 2008
terça a sexta 10h às 21h
sábado domingo feriado 10h às 19h
quarta 2 julho a domingo 14 setembro 2008
terça a sexta 10h às 21h
sábado domingo feriado 10h às 19h
Q U E M M E D E R A,
EU PUDESSE DESFRUTAR DESTE ÓCIO CRIATIVO!!!!
Rei reina, governador governa, deputado...
Era uma vez, longe, bem longe, lá onde o oceano beija as areias das praias, um país bonito por natureza. O povo daquela terra abençoada vivia governado por um rei sábio – o sábio barbudo.
Assumira o trono depois de uma guerra na qual derrotara a dinastia dos pássaros de bico grande. Como já era de hábito naquelas paragens, diferentemente da guerra das rosas, o conflito foi resolvido sem derramamento de sangue, mais ainda, sem choque físico. Cada um dos postulantes à corôa estabeleceu uma lista dos seus soldados, e venceu aquele que apresentou uma relação maior. Tudo apurado eletronicamente. Foi uma guerra em paz, como se deve. Ventos benfazejos, vindo de alhures, passaram a inflar as velas da nau capitânia. Ao vitorioso coube a herança maldita – termo que designava um roteiro seguido com poucas modificações.
Depois de alguns anos de felicidade intensa, entrecortados por pequenas intrigas, alguns erros administrativos e ações estranhas adotadas por alguns seres aloprados, eis que um perigoso dragão ameaçou invadir as terras do suserano. A fera hedionda devorava salários, e espalhava maquininhas de remarcação em supermercados.
Não contente com isso, a besta atacava bolsos, poupanças e patrimônios. No começo, o rei sábio disse que não valeria a pena perder meia hora de sono por causa do perigo. Preferiu, em sua imensa sabedoria, longos passeios na sua carruagem alada, para, em seguida descer e, subindo em cima de qualquer caixote que houvesse por perto, explicar, a seus súditos, com sua voz possante e rouca o quão maravilhoso ele era, apesar de pouco ou nada ter estudado. Atirava punhados de moedas, acomodadas em bolsas cuidadosamente costuradas às famílias que não se interessassem por aulas de pescaria. Assim Luiz o bem-amado – não confundir com seu antecessor Luís XV – cercado de sua corte, dava lições extraídas de uma vida repleta de ensinamentos, sempre apontando um dedo ameaçador para perversos “eles”.
Era uma vez, longe, bem longe, lá onde o oceano beija as areias das praias, um país bonito por natureza. O povo daquela terra abençoada vivia governado por um rei sábio – o sábio barbudo.
Assumira o trono depois de uma guerra na qual derrotara a dinastia dos pássaros de bico grande. Como já era de hábito naquelas paragens, diferentemente da guerra das rosas, o conflito foi resolvido sem derramamento de sangue, mais ainda, sem choque físico. Cada um dos postulantes à corôa estabeleceu uma lista dos seus soldados, e venceu aquele que apresentou uma relação maior. Tudo apurado eletronicamente. Foi uma guerra em paz, como se deve. Ventos benfazejos, vindo de alhures, passaram a inflar as velas da nau capitânia. Ao vitorioso coube a herança maldita – termo que designava um roteiro seguido com poucas modificações.
Depois de alguns anos de felicidade intensa, entrecortados por pequenas intrigas, alguns erros administrativos e ações estranhas adotadas por alguns seres aloprados, eis que um perigoso dragão ameaçou invadir as terras do suserano. A fera hedionda devorava salários, e espalhava maquininhas de remarcação em supermercados.
Não contente com isso, a besta atacava bolsos, poupanças e patrimônios. No começo, o rei sábio disse que não valeria a pena perder meia hora de sono por causa do perigo. Preferiu, em sua imensa sabedoria, longos passeios na sua carruagem alada, para, em seguida descer e, subindo em cima de qualquer caixote que houvesse por perto, explicar, a seus súditos, com sua voz possante e rouca o quão maravilhoso ele era, apesar de pouco ou nada ter estudado. Atirava punhados de moedas, acomodadas em bolsas cuidadosamente costuradas às famílias que não se interessassem por aulas de pescaria. Assim Luiz o bem-amado – não confundir com seu antecessor Luís XV – cercado de sua corte, dava lições extraídas de uma vida repleta de ensinamentos, sempre apontando um dedo ameaçador para perversos “eles”.
para ler na integra: direto da fonte
Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, é autor de ´Almanaque Anacrônico`, ´Versos Anacrônicos`, ´Apetite Famélico`, ´Mãos Outonais`, ´Sessão da Tarde`, ´Desespero Provisório` , ´Não basta sonhar` e o recente livro/peça ´Um Triângulo de Bermudas`. (Ed. Totalidade). E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
"A importância da grande obra econômica de Adam Smith é usualmente definida pelos feitos de sua influência como, alternativamente, o marco do início do enfoque científico dos fenômenos econômicos ou a Bíblia da irresistível vaga livre-cambista do século IX. Embora ambas as definições sejam apropriadas, é interessante que, preliminarmente à discussão desses aspectos metodológicos e políticos de A Riqueza das Nações, seja apresentado um roteiro de seus principais aspectos teóricos e normativos de modo a fornecer ao leitor uma visão integrada do conjunto de suas proposições analíticas, das quais a obra deriva sua característica adicional de fonte dos paradigmas teóricos sobre os quais foi construída a Economia Política clássica. "
Para baixar:
Adam Smith - Riqueza das Nações - Volume 1.doc
Adam Smith - Riqueza das Nações - Volume 2.doc
Para baixar:
Adam Smith - Riqueza das Nações - Volume 1.doc
Adam Smith - Riqueza das Nações - Volume 2.doc
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O Advogado (The Hour of the Pig)
Directed by Leslie Megahey
Produced by David M. Thompson
Written by Leslie Megahey
Starring Colin Firth:
Ian Holm
Donald Pleasance
Music by Alexandre Desplat
Cinematography Denis Lenoir
Release date(s):
Outro aspecto histórico muito interessante é a realidade normativa da Justiça da época e a sua completa sujeição ao Direito Romano. O próprio diploma legal manipulado pelos operadores do Direito no filme, a Lei Ponthieu, na realidade trata-se de uma reprodução das Pandectas Romanas (Digesto) e como era empregada na Europa da Idade Média. Outro aspecto importantíssimo é como o direito consuetudinário regia as relações sociais e sua adequação ao texto legal (Pandectas).
por Alexandre Sales de Paula e Souza
Promotor de Justiça do Distrito Federal
Directed by Leslie Megahey
Produced by David M. Thompson
Written by Leslie Megahey
Starring Colin Firth:
Ian Holm
Donald Pleasance
Music by Alexandre Desplat
Cinematography Denis Lenoir
Release date(s):
25 September 1993 (Dinard Festival of British Cinema)
21 January 1994 (UK)
24 August 1994 (USA)
Running time 112m 16s (UK)
Country United Kingdom:
France
Language English
Esta poderia ser apenas mais uma estória de um jovem advogado, recém formado e que vai para uma cidade pequena do interior com o ideal de tornar-se um Defensor dos pobres e desprotegidos. Todavia o que torna a estória de Richard Courtois particularmente interessante é justamente o contexto histórico que o envolve: o filme na realidade retrata a estrutura da Justiça na Europa no período da Idade Média, no auge do feudalismo.
O Bacharel Courtois deixa uma promissória carreira jurídica em Paris para dirigir-se à pequena cidade de Abbeville no interior da França objetivando o aprendizado com a experiência. Lá chegando entra logo em contato com uma realidade diversa da que experimentava na Capital. Acaba descobrindo que a vida daquelas pessoas humildes é regida principalmente pelos seus medos e preconceitos irracionais aos olhos do jovem Advogado que logo entra em conflito com essa realidade.
Esse conflito chega a seu apse quando Courtois vê-se pressionado a defender um cliente inusitado: um porco acusado de homicídio. Sua relutância acaba colocando-o em confronto com o Promotor Pincheon, o Juiz Boniface, o Senhor Feudal que comanda a Justiça da cidade segundo seus interesses pessoais além dos próprios aldeões, gerando situações inimagináveis numa Corte de Justiça.
Enfoque Jurídico
O filme torna-se deveras interessante principalmente por seu enfoque histórico cuidadosamente retratado nessa produção de uma das mais respeitáveis redes de televisão do mundo: a BBC de Londres.
O que inicialmente chama a atenção do estudioso do Direito é o fato de que até quase o advento da Idade Moderna o julgamento de animais pelo cometimento de crimes era prática muito comum principalmente durante todo o feudalismo, havendo registros históricos de inúmeros processos com condenações inclusive à pena de morte. Uma das personagens do filme coloca bem o ponto de vista da época justificando o processo contra animais sob o argumento de que "alguns animais nascem com a maldade".
21 January 1994 (UK)
24 August 1994 (USA)
Running time 112m 16s (UK)
Country United Kingdom:
France
Language English
Esta poderia ser apenas mais uma estória de um jovem advogado, recém formado e que vai para uma cidade pequena do interior com o ideal de tornar-se um Defensor dos pobres e desprotegidos. Todavia o que torna a estória de Richard Courtois particularmente interessante é justamente o contexto histórico que o envolve: o filme na realidade retrata a estrutura da Justiça na Europa no período da Idade Média, no auge do feudalismo.
O Bacharel Courtois deixa uma promissória carreira jurídica em Paris para dirigir-se à pequena cidade de Abbeville no interior da França objetivando o aprendizado com a experiência. Lá chegando entra logo em contato com uma realidade diversa da que experimentava na Capital. Acaba descobrindo que a vida daquelas pessoas humildes é regida principalmente pelos seus medos e preconceitos irracionais aos olhos do jovem Advogado que logo entra em conflito com essa realidade.
Esse conflito chega a seu apse quando Courtois vê-se pressionado a defender um cliente inusitado: um porco acusado de homicídio. Sua relutância acaba colocando-o em confronto com o Promotor Pincheon, o Juiz Boniface, o Senhor Feudal que comanda a Justiça da cidade segundo seus interesses pessoais além dos próprios aldeões, gerando situações inimagináveis numa Corte de Justiça.
Enfoque Jurídico
O filme torna-se deveras interessante principalmente por seu enfoque histórico cuidadosamente retratado nessa produção de uma das mais respeitáveis redes de televisão do mundo: a BBC de Londres.
O que inicialmente chama a atenção do estudioso do Direito é o fato de que até quase o advento da Idade Moderna o julgamento de animais pelo cometimento de crimes era prática muito comum principalmente durante todo o feudalismo, havendo registros históricos de inúmeros processos com condenações inclusive à pena de morte. Uma das personagens do filme coloca bem o ponto de vista da época justificando o processo contra animais sob o argumento de que "alguns animais nascem com a maldade".
Outro aspecto histórico muito interessante é a realidade normativa da Justiça da época e a sua completa sujeição ao Direito Romano. O próprio diploma legal manipulado pelos operadores do Direito no filme, a Lei Ponthieu, na realidade trata-se de uma reprodução das Pandectas Romanas (Digesto) e como era empregada na Europa da Idade Média. Outro aspecto importantíssimo é como o direito consuetudinário regia as relações sociais e sua adequação ao texto legal (Pandectas).
por Alexandre Sales de Paula e Souza
Promotor de Justiça do Distrito Federal
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A riqueza das nações, Adam Smith.
Breve resenha histórica da economia e dos fundamentos do economicismo.
Viver em sociedade pressupõe disponibilidade para o intercâmbio que, por razões que lhe são imanentes, conduziu o homem, enquanto espécie considerado, à divisão do trabalho. Tal princípio ocorre tão naturalmente como a aprendizagem da língua. Ao nível da economia, a divisão do trabalho é a grande causa do aumento da capacidade produtiva e ocorre primordialmente em momentos de estabilidade social, evoluindo tendencialmente para novas subdivisões, como elos de uma corrente que se acrescentam, sem se excluírem. Adam Smith começa por se referir às artes insignificantes, que na sua óptica são aquelas que suprem as necessidades de grupos reduzidos. Exemplifica com a produção de alfinetes, em que o número de trabalhadores é baixo, o que considera ser consequência da especialização do trabalho. Neste tipo de produção assiste-se à execução, pelo mesmo sujeito, de duas ou três tarefas distintas, não correspondendo por isso à divisão do trabalho strictu sensu, implicando de qualquer forma um já apreciável aumento de produtividade. A estes ofícios menores, assim considerados sob um ponto de vista economicista, em virtude do escasso mercado a que correspondem, opõem-se as grandes industrias que visam satisfazer necessidades em larga escala, para as quais existe um vasto mercado a preencher.
Nestas, o processo produtivo exige um número maior de indivíduos, sendo que, nestes casos a divisão do trabalho é maior, apesar da sua menor visibilidade, devida à superior dispersão dos trabalhadores, que pela sua quantidade não caberiam numa só oficina.
O que se verifica, é que em ambos os casos a divisão do trabalho, seja em que grau for, acarreta sempre um aumento dos poderes produtivos do trabalho. Este princípio é característico das sociedades mais ricas e opulentas em termos económicos. Adam Smith, aponta igualmente, diferenças práticas do referido princípio, conforme se aplique à agricultura ou à indústria. A agricultura está condicionada pela sazonalidade que lhe é inerente, o que por motivos economicistas lógicos, impede o empresário agrícola de manter um homem constantemente empregado numa função que carece de regularidade, pelo carácter cíclico das estações. Ou seja nas sociedades mais ricas, a solos mais férteis, maior capacidade produtiva, maior investimento não corresponde necessariamente a colocação de produto mais barato no mercado, na medida em que o princípio da divisão do trabalho é condicionado pela sazonalidade específica dessa produção agrícola.
Deste modo, segundo Adam Smith, a concorrência dos países mais pobres com os mais ricos sofre menos restrições, sendo possível por parte dos primeiros a colocação de produtos no mercado a preços concorrenciais. Assim, temos que a divisão do trabalho gera aumento da quantidade de trabalho, a qual é explicável pela relação que se estabelece entre os seguintes factores:
- Aumento da destreza do trabalhador.
- Poupança do tempo que se perde ao passar duma actividade para outra.
- Invenção de um grande número de máquinas que facilitam e reduzem o emprego de energia humana, de tal forma que um só homem realiza o trabalho de muitos.
Na altura em que Adam Smith, editou a obra de que nos ocupamos, já a primeira fase da revolução industrial estava em curso, o ferro, os tecidos, o vapor, estavam já em franco desenvolvimento, no que à sua utilização diz respeito. Os movimentos protestantes de Calvino, e em menor escala Lutero introduziram com o renascimento a especulação com os juros bancários, uma outra significação foi atribuída ao trabalho, a vocação e a devoção eram a forma de realizar os desígnios de Deus em terra ( WEBER, 1996 [1905]: 57). Aproximava-se a revolução Francesa de 1789, grandes filósofos como Kant reestruturavam a relação dos sujeitos com os objectos (Revolução Coperniciana), Hegel um pouco mais tarde, com o seu colectivismo metodológico, abarca todas as áreas de acção humana no espírito mundial, que progride com racionalidade histórica, e se é racional, contém implicitamente um certo grau de previsibilidade (o padrão da lógica é a matriz económica, Shumpeter), ao qual se acrescenta o materialismo histórico de Karl Marx, com profundas consequências na economia, doravante equacionada como intimamente relacionada com os elementos históricos e sociais, sendo que o valor da mercadoria está na quantidade de trabalho socialmente necessária para a produzir, o que, já no séc.XX viria a ter actualização e desenvolvimentos com “Les annales d`his toire économique et social”, onde desempenham papel de relevo Lucien Febvre, Marc Bloc e Braudel.
Nesta ambiência, distingue-se o trabalho produtivo do não produtivo, os rituais característicos da ciclicidade agrícola sofrem severos danos na sua estrutura, a racionalidade, o cálculo, o economicismo (BOURDIEU, 2002 [1972]: 242-247) transformam os seus contornos, o capital simbólico não desaparece mas, reformula-se.
Durkheim, no trabalho que constituiu a sua tese de doutoramento, “Da Divisão Social do Trabalho”, refere-se às sociedades de solidariedade mecânica como aquelas em que cada um desempenha qualquer função, por oposição à solidariedade orgânica em que se assiste à especialização de funções como consequência das variáveis independentes, volume, densidade material e densidade moral que produzem variáveis dependentes como a arte, o direito, a economia, etc…Estas variáveis são dependentes porque residem no individuo, quanto maior for o seu número, maior será a divisão social do trabalho. Para Durkheim a economia constitui o sector mais profano das actividades do ser social, e na sua lógica de consenso, propõe as corporações como forma de mitigar os conflitos e anomias dela resultantes. Na economia ocupa lugar de destaque o contrato, também a ele Durkheim presta atenção, sem no entanto fugir aos pressupostos do seu pensamento.
A sociedade pré-existe ao individuo, é dela que surge a divisão do trabalho e como sequência destas o contrato, como forma de regular juridicamente uma tendência natural da sociedade. Considero que neste aspecto, Adam Smith partilha destas ideias, visto que, também ele faz derivar da cooperação, acto só possível em sociedade, a divisão social do trabalho. O comportamento económico não é um acto de altruísmo, baseia-se no cálculo das minhas necessidades e na forma de as suprir, recusando o desperdício (NEVES, 1994: 29), através do relacionamento com o outro. Não é da boa vontade do homem do talho, que posso esperar ter um bife à mesa, mas sim do seu interesse (NEVES, 1994).
Neste sentido, a construção racional baseada na ideia de que a antropologia surge para diminuir a questão entre o eu e o outro, o nós e o eles, (CASAL, 1996: 12), faz todo o sentido na abordagem antropológica das questões relacionadas com a troca, sendo que a economia não se resume às trocas financeiras, a decisão de ler um livro ou ir ao cinema, envolve igualmente custos e benefícios, que o agente pode e deve ponderar. Talvez a antropologia, consiga incutir um pouco de bom senso e humanismo, refreando o ímpeto do imperialismo economicista que se abate sobre as sociedades contemporâneas (NEVES, 1994: 15-17). Sendo relevante realçar, que a divisão do trabalho não opera em exclusividade na economia, fá-lo igualmente relativamente a outras instituições sociais, como a família, as escolas, etc..., pelo que se considera um fenómeno social total (Marcel Mausse), exigindo a interdisciplinidade para a sua compreensão. Esta tendência errada, para ver a economia como exclusivamente ligada às escolhas materiais (Neves, 1994: 13), decorrerá provavelmente, de um crescente consumismo, que fez com que ao longo de dois centúrios, a teoria do valor, que o incorporava na própria mercadoria sob a forma de unidades de trabalho/tempo, se deslocasse para uma teoria de pendor subjectivo, em que valor reside na utilidade que essa mercadoria tem para quem a consome, esse processo inicia-se com a escola de Viena, desenvolvendo-se com Stanley Jevons, Walras (Esc.Lausanne) e Alfred Marshal, atribuindo este, especial relevo à racionalidade e equilíbrio da decisão econômica.
SMITH, Adam (1999 [1776]) ”Da Divisão do Trabalho” in A Riqueza das Nações, Vol. 1, Lisboa, Edições Calouste Gulbenkian, pp.77-91.
Breve resenha histórica da economia e dos fundamentos do economicismo.
Viver em sociedade pressupõe disponibilidade para o intercâmbio que, por razões que lhe são imanentes, conduziu o homem, enquanto espécie considerado, à divisão do trabalho. Tal princípio ocorre tão naturalmente como a aprendizagem da língua. Ao nível da economia, a divisão do trabalho é a grande causa do aumento da capacidade produtiva e ocorre primordialmente em momentos de estabilidade social, evoluindo tendencialmente para novas subdivisões, como elos de uma corrente que se acrescentam, sem se excluírem. Adam Smith começa por se referir às artes insignificantes, que na sua óptica são aquelas que suprem as necessidades de grupos reduzidos. Exemplifica com a produção de alfinetes, em que o número de trabalhadores é baixo, o que considera ser consequência da especialização do trabalho. Neste tipo de produção assiste-se à execução, pelo mesmo sujeito, de duas ou três tarefas distintas, não correspondendo por isso à divisão do trabalho strictu sensu, implicando de qualquer forma um já apreciável aumento de produtividade. A estes ofícios menores, assim considerados sob um ponto de vista economicista, em virtude do escasso mercado a que correspondem, opõem-se as grandes industrias que visam satisfazer necessidades em larga escala, para as quais existe um vasto mercado a preencher.
Nestas, o processo produtivo exige um número maior de indivíduos, sendo que, nestes casos a divisão do trabalho é maior, apesar da sua menor visibilidade, devida à superior dispersão dos trabalhadores, que pela sua quantidade não caberiam numa só oficina.
O que se verifica, é que em ambos os casos a divisão do trabalho, seja em que grau for, acarreta sempre um aumento dos poderes produtivos do trabalho. Este princípio é característico das sociedades mais ricas e opulentas em termos económicos. Adam Smith, aponta igualmente, diferenças práticas do referido princípio, conforme se aplique à agricultura ou à indústria. A agricultura está condicionada pela sazonalidade que lhe é inerente, o que por motivos economicistas lógicos, impede o empresário agrícola de manter um homem constantemente empregado numa função que carece de regularidade, pelo carácter cíclico das estações. Ou seja nas sociedades mais ricas, a solos mais férteis, maior capacidade produtiva, maior investimento não corresponde necessariamente a colocação de produto mais barato no mercado, na medida em que o princípio da divisão do trabalho é condicionado pela sazonalidade específica dessa produção agrícola.
Deste modo, segundo Adam Smith, a concorrência dos países mais pobres com os mais ricos sofre menos restrições, sendo possível por parte dos primeiros a colocação de produtos no mercado a preços concorrenciais. Assim, temos que a divisão do trabalho gera aumento da quantidade de trabalho, a qual é explicável pela relação que se estabelece entre os seguintes factores:
- Aumento da destreza do trabalhador.
- Poupança do tempo que se perde ao passar duma actividade para outra.
- Invenção de um grande número de máquinas que facilitam e reduzem o emprego de energia humana, de tal forma que um só homem realiza o trabalho de muitos.
Na altura em que Adam Smith, editou a obra de que nos ocupamos, já a primeira fase da revolução industrial estava em curso, o ferro, os tecidos, o vapor, estavam já em franco desenvolvimento, no que à sua utilização diz respeito. Os movimentos protestantes de Calvino, e em menor escala Lutero introduziram com o renascimento a especulação com os juros bancários, uma outra significação foi atribuída ao trabalho, a vocação e a devoção eram a forma de realizar os desígnios de Deus em terra ( WEBER, 1996 [1905]: 57). Aproximava-se a revolução Francesa de 1789, grandes filósofos como Kant reestruturavam a relação dos sujeitos com os objectos (Revolução Coperniciana), Hegel um pouco mais tarde, com o seu colectivismo metodológico, abarca todas as áreas de acção humana no espírito mundial, que progride com racionalidade histórica, e se é racional, contém implicitamente um certo grau de previsibilidade (o padrão da lógica é a matriz económica, Shumpeter), ao qual se acrescenta o materialismo histórico de Karl Marx, com profundas consequências na economia, doravante equacionada como intimamente relacionada com os elementos históricos e sociais, sendo que o valor da mercadoria está na quantidade de trabalho socialmente necessária para a produzir, o que, já no séc.XX viria a ter actualização e desenvolvimentos com “Les annales d`his toire économique et social”, onde desempenham papel de relevo Lucien Febvre, Marc Bloc e Braudel.
Nesta ambiência, distingue-se o trabalho produtivo do não produtivo, os rituais característicos da ciclicidade agrícola sofrem severos danos na sua estrutura, a racionalidade, o cálculo, o economicismo (BOURDIEU, 2002 [1972]: 242-247) transformam os seus contornos, o capital simbólico não desaparece mas, reformula-se.
Durkheim, no trabalho que constituiu a sua tese de doutoramento, “Da Divisão Social do Trabalho”, refere-se às sociedades de solidariedade mecânica como aquelas em que cada um desempenha qualquer função, por oposição à solidariedade orgânica em que se assiste à especialização de funções como consequência das variáveis independentes, volume, densidade material e densidade moral que produzem variáveis dependentes como a arte, o direito, a economia, etc…Estas variáveis são dependentes porque residem no individuo, quanto maior for o seu número, maior será a divisão social do trabalho. Para Durkheim a economia constitui o sector mais profano das actividades do ser social, e na sua lógica de consenso, propõe as corporações como forma de mitigar os conflitos e anomias dela resultantes. Na economia ocupa lugar de destaque o contrato, também a ele Durkheim presta atenção, sem no entanto fugir aos pressupostos do seu pensamento.
A sociedade pré-existe ao individuo, é dela que surge a divisão do trabalho e como sequência destas o contrato, como forma de regular juridicamente uma tendência natural da sociedade. Considero que neste aspecto, Adam Smith partilha destas ideias, visto que, também ele faz derivar da cooperação, acto só possível em sociedade, a divisão social do trabalho. O comportamento económico não é um acto de altruísmo, baseia-se no cálculo das minhas necessidades e na forma de as suprir, recusando o desperdício (NEVES, 1994: 29), através do relacionamento com o outro. Não é da boa vontade do homem do talho, que posso esperar ter um bife à mesa, mas sim do seu interesse (NEVES, 1994).
Neste sentido, a construção racional baseada na ideia de que a antropologia surge para diminuir a questão entre o eu e o outro, o nós e o eles, (CASAL, 1996: 12), faz todo o sentido na abordagem antropológica das questões relacionadas com a troca, sendo que a economia não se resume às trocas financeiras, a decisão de ler um livro ou ir ao cinema, envolve igualmente custos e benefícios, que o agente pode e deve ponderar. Talvez a antropologia, consiga incutir um pouco de bom senso e humanismo, refreando o ímpeto do imperialismo economicista que se abate sobre as sociedades contemporâneas (NEVES, 1994: 15-17). Sendo relevante realçar, que a divisão do trabalho não opera em exclusividade na economia, fá-lo igualmente relativamente a outras instituições sociais, como a família, as escolas, etc..., pelo que se considera um fenómeno social total (Marcel Mausse), exigindo a interdisciplinidade para a sua compreensão. Esta tendência errada, para ver a economia como exclusivamente ligada às escolhas materiais (Neves, 1994: 13), decorrerá provavelmente, de um crescente consumismo, que fez com que ao longo de dois centúrios, a teoria do valor, que o incorporava na própria mercadoria sob a forma de unidades de trabalho/tempo, se deslocasse para uma teoria de pendor subjectivo, em que valor reside na utilidade que essa mercadoria tem para quem a consome, esse processo inicia-se com a escola de Viena, desenvolvendo-se com Stanley Jevons, Walras (Esc.Lausanne) e Alfred Marshal, atribuindo este, especial relevo à racionalidade e equilíbrio da decisão econômica.
SMITH, Adam (1999 [1776]) ”Da Divisão do Trabalho” in A Riqueza das Nações, Vol. 1, Lisboa, Edições Calouste Gulbenkian, pp.77-91.
"Os criativos de fora realmente não tem jeito, demonstram a cada dia porque são os melhores. Não é necessário citar a vasta lista dos melhores,
pois suas obras já são boas o suficiente e agora O Publicidade No Ato traz mais uma bela criação juntada com uma bela idéia desses respeitosos criativos."